sábado, 22 de setembro de 2012

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - Peça de Teatro

O Mistério dos Fatos Desaparecidos
Autora: Isabel
Grupo-alvo: Crianças de idade pré-escolar e 1º ciclo

Personagens:
Rei
Alfaiate
Rainha
Personagens secundárias, por ordem de entrada em cena:
Lacaio
Ajudante do alfaiate
Ministros (3 falam, mais dois como figurantes)

Era uma vez, num país distante, um rei muito vaidoso, parecido com aquele da história “O Rei Vai Nu” que queria ter sempre fatos novos. Tinha um quarto de vestir onde havia pelo menos uma dúzia de espelhos e todos os dias de manhã o rei se mirava neles, de frente, por trás, de lado e achava-se bonito e elegante. Só depois saía do quarto, todo aperaltado, para os seus afazeres de rei que, como calculam, eram muitos. E durante o dia voltava muitas vezes, para mudar de roupa e fazer novamente o exame da elegância, porque detestava repetir toilletes e queria estar sempre bem vestido, de acordo com as ocasiões. Para se encontrar com o primeiro-ministro vestia-se de uma maneira, para almoçar com a rainha e os príncipes de outra e ainda mudava para ir visitar os seus súbditos, em alguma inauguração que fosse necessário fazer.
À noite havia sempre muitas festas e o rei não suportava não ser o mais bem vestido entre todos os convidados.
No palácio havia um alfaiate, que estava ao serviço da família do rei há muitos anos e que nunca tivera tanto que fazer. Foi preciso contratar-lhe ajudantes e mesmo assim tinham de trabalhar até tarde, às vezes pela noite dentro.

Cena I.
No quarto de vestir do rei. Há vários espelhos de corpo inteiro, dois sofás, um deles com chaise-long e um enorme guarda-fatos que domina a cena. Em cima da chaise long estão vários fatos. O rei, que está acompanhado por um criado, escolhe uma toilette e vai pondo fatos à sua frente, combina-os com sapatos, etc. Queixa-se:
Rei: Não tenho nada de jeito para vestir!
Alguém bate à porta.
Rei: (continuando a mirar-se no espelho) Quem é? O que querem?
Voz detrás da porta: Alteza, os embaixadores estão à sua espera. Está uma hora atrasado.
Rei: Já vou, já vou. (comentando para si próprio, numa voz mais baixa): Não posso aparecer de qualquer maneira na reunião com os embaixadores! Ainda vão dizer que este reino tem um rei mal vestido…
Voltam a bater à porta. O rei ordena ao lacaio, altivo e impaciente:
Rei: Vai dizer que parem de me importunar, pelo rei devem esperar o tempo que for necessário.
O lacaio vai até à porta, abre-a, conversa com alguém que está lá fora e vira-se para dentro, para o rei:
Lacaio: É o ajudante do alfaiate, ele vinha colocar o fato novo de V. Alteza no guarda-fatos.
Rei: Ah, esse podes deixar entrar.
Entra o ajudante do alfaiate, com um fato num cabide, protegido por um plástico transparente, deixando ver o colorido dos tecidos. O rei dirige-se para ele, aprecia o fato e decide.
Rei: É mesmo este que vou usar para a reunião com os embaixadores. Deixa aí, deixa aí.
O Ajudante entrega o fato ao lacaio e vai sair. O rei diz-lhe
Rei: Diz ao teu patrão que quero outro fato para o final desta semana. Para a recepção dos ministros, tenho de estar apresentável.
Ajudante: Sim Alteza, transmitirei as suas ordens ao Sr. Couture..
O Ajudante do alfaiate sai e fica novamente o rei com o lacaio.
O rei canta (enquanto coloca fatos à frente dele, os fatos circulam entre ele e o lacaio como se fossem bolas)

Eu sou o rei elegante.
Estar bem vestido é comigo.
Em qualquer ocasião sou galante.
Perto de mim os ministros parecem mendigos

Eles são uns invejosos
Estão-me sempre a aborrecer
Queixam-se, os ambiciosos
Que eu só quero aparecer

Dizem que não me interesso
Pelos assuntos do reino
Quem pode assinar despachos
Vestindo um fato de treino?

Eu sou o rei elegante.
Estar bem vestido é comigo.
Em qualquer ocasião sou galante.
Perto de mim os ministros parecem mendigos

O lacaio:
Ele é o rei elegante
Está sempre bem vestido
Gosta é de chás dançantes
Nem dá pelo alarido.

Cena II
Numa sala de trabalho do palácio, uma mesa de reuniões, à volta da qual estão sentados alguns Ministros e Notáveis do Reino. Ouve-se lá fora barulho de uma manifestação contra o rei e o governo.
Ministro 1: Meus senhores, isto não pode continuar assim, temos de fazer alguma coisa. Por causa da vaidade do rei ainda vai cair o governo… Ele chega atrasado a todo o lado porque se está a arranjar, interrompe as reuniões a meio para ter tempo de se vestir para o chá… As leis para aprovar acumulam-se na secretária dele. Oiçam lá fora o povo – as pessoas percebem que o reino está sem orientação. Vêm o rei sempre no meio do luxo e criticam-no, pois enquanto ele pensa no que vai vestir para mais um baile o povo fica cada vez mais pobre. Nós também vamos ficar mais pobres, porque vamos ficar sem emprego se não tomamos medidas!
Ministro 2: O ilustre colega tem razão. Devíamos falar com o rei e se ele não nos ouvir devemos fazer alguma coisa.
Ministro 3: Nós já tentámos falar com o rei. A mim recebeu-me no quarto de vestir e tenho ideia que não ouviu metade do que eu disse. Estava lá também o barbeiro, a fazer-lhe um corte novo!
Ministro 1: Eu acho que quem devia governar era a rainha. Ela preocupa-se muito mais com o povo e com o que se passa no reino.
Ministro 3: Sim, ela podia substituir o rei até o príncipe João atingir a maioridade.
Todos: Apoiado, apoiado.
Ministro 3 (continuando): O único problema que eu vejo é que ela gosta do marido e pode ter escrúpulos em tomar o lugar dele, pode pensar que é desleal.
Ministro 2: Eu proponho que vamos falar com a rainha e expor-lhe estas preocupações? Assim ficaremos a saber a sua opinião.
Todos: Vamos, vamos.

Vamos falar com a rainha
Ela é uma mulher sensata
Precisamos que nos diga
Se aceita ser candidata.

Já não suportamos tanta vaidade do rei
Dos assuntos importantes só sabe dizer não sei
Mas se lhe perguntamos qual é a última moda
Fala tanto, tanto, tanto que até nos incomoda.
As cores do Outono-Inverno tem na ponta da língua
Mas ignora por completo se o povo morre à míngua

Vamos falar com a rainha
Ela é uma mulher sensata
Precisamos que nos diga
Se aceita ser candidata.

E saem da mesa, em cortejo, cheios de determinação, dizendo uns para os outros: “vamos falar com a rainha, vamos falar com a rainha”.

Antes de saírem de cena passa a rainha que se encontra com aquele cortejo.
Dizem em coro, ao mesmo tempo que fazem uma vénia: A rainha!
Ela corresponde à vénia, cerimoniosamente.
O ministro 1 dirige-se-lhe:
Ministro 1: Minha rainha, nós os ministros precisamos muito de falar com V. Alteza.
Rainha: Sim? Concerteza que posso falar com os ministros do reino. Venham depois do chá aos meus aposentos e serão recebidos.
Despedem-se com nova vénia e saem de cena, a rainha por um lado os ministros por outro.
Quando fica silêncio a manifestação contra o rei ouve-se mais alta com palavras de ordem como: abaixo o rei, viva a república.

Cena III
Novamente no quarto de vestir do rei. Este procura no armário e não encontra o fato novo que o alfaiate lá devia ter deixado. Era para ele estrear em mais uma festa do palácio, nessa noite. Mas não está lá nenhum fato novo.
O rei chama imediatamente o lacaio a quem manda chamar o alfaiate para lhe pedir contas. Quando o alfaiate chega:
Rei: Sr. Couture, já estou a ficar muito aborrecido com isto. É a terceira vez que devia ter um fato novo aqui e não está cá nada. Diga-me o que se passa.
O alfaiate, intrigado, espreita para dentro do enorme roupeiro, entra mesmo lá dentro.
Alfaiate: Fui eu que deixei aqui mesmo, esta manhã, a sua roupa nova.
Rei: Deixou? Mas não vê que não está cá nada? Você está a tentar enganar-me? Você julga que eu estou maluco?
Alfaiate (à parte) Sempre foi um bocado maluco, mas isso agora não vem ao caso, eu tenho a certeza que deixei aqui o fato! (Voltando-se para o rei): Alteza, longe de mim pensar uma coisa dessas do meu rei. Mas juro-lhe que coloquei no roupeiro o fato de hoje. E também os outros que V. Alteza não encontrou. Só posso concluir uma coisa: alguém anda a roubar-lhe os fatos novos.
Rei: Claro, claro, e eu era um sapo! Quem é que o Sr. Couture acha que se atreveria a vir aos aposentos do rei roubar a roupa nova? Para não falar dos guardas que impediriam os ladrões, mesmo que alguém se atrevesse.
Alfaiate: Não sei como, Alteza, mas sei que o fizeram.
Rei: Oh, homem, não vê que isso é impossível!
Alfaiate (ofendido): V. Alteza está a desconfiar de mim e eu acho que não mereço isso. Já o meu pai trabalhou para o seu e sempre fomos leais à sua família. Mas se desconfia de mim dessa maneira só me resta ir embora.
Rei (apaziguador): Eu sei, eu sei que a sua família sempre foi leal e honesta para com a minha. Mas o que é que eu posso pensar? Só posso ver os factos e concluir a partir daí.
Alfaiate: E eu só posso despedir-me, se já não confiar em mim, mesmo sabendo que é uma grande injustiça. Só lhe peço que me dê a oportunidade de provar que tenho razão e que não sou culpado daquilo de que me acusa.
Rei: Mas como?
Alfaiate: tenho um plano. Oiça-me (e debruça-se para o rei, falando-lhe muito baixo, a explicar o plano)
Rei (depois de ouvir a proposta de plano do alfaiate) É uma ideia um bocado parva, mas em nome da amizade antiga que une as nossas famílias, vou aceitar esse plano. Mas aposto que não vamos descobrir nada.
Alfaiate: Eu aposto o contrário. Se V. Alteza ganhar a aposta pode despedir-me à vontade que eu não protestarei. Mas se eu ganhar a aposta também quero uma recompensa.
Rei: Podes dizer.
Alfaiate: Se eu ganhar a aposta quero que V. Alteza, a partir de agora, só me peça um fato novo por mês.
Rei: Que horror, e as minhas festas? E as minhas reuniões com embaixadores? Queres que fique um maltrapilho?
Alfaiate: (em aparte) Que exagerado, credo! (Voltando-se para o rei, em tom queixoso) Eu tenho trabalhado quase todas as noites e muitos fins-de-semana, por causa da roupa de V. Alteza e a minha mulher já me ameaçou que pede o divórcio se eu não lhe der mais atenção. Por favor, Alteza, não quero ficar sem mulher!
Rei: Arranja mais empregados!
Alfaiate: E vou à falência, não (?) com os ordenados, os impostos e a segurança social… Está bem, faço isso se V. Alteza ganhar a aposta. Mas se perder faz o que lhe peço. Afinal, se acha que não tenho razão o que tem a perder?
Rei (Reflectindo): Também é verdade!... Está bem, aceito a aposta.
Alfaiate: Óptimo, amanhã cá estarei para avançarmos com o plano.

Cena IV:
Novamente nos aposentos do Rei. Chega o alfaiate, com um fato novo pendurado no cabide. O rei está à espera dele. O alfaiate pendura o fato no roupeiro e ele e o rei escondem-se atrás dos sofás do quarto e esperam.
Há uns momentos de silêncio, em que se ouvem ruídos amortecidos, do exterior: barulho de carruagens, de criados que se movimentam nas suas tarefas de limpeza e arrumação, alguém a cantarolar enquanto trabalha no jardim. A certa altura ouvem-se passos, o rei e o alfaiate recolhem-se de modo a ficarem completamente escondidos. Mas os passos afastam-se, ouvindo-se ao mesmo tempo vozes a conversar e a rir. O rei, farto daquela posição, acocorado atrás do sofá, começa a sentir-se ridículo. Levanta-se e dirige-se ao alfaiate:
Rei: Estás a ver, não há ladrão nenhum, tu é que me andas a enganar. Vou sair daqui para fora, estou com fome e é hora do chá!
Alfaiate: Esperemos mais um pouco.
Mal ele acaba de falar, quando o rei vai novamente protestar, ouve-se barulho de passos e o puxador da porta começa a mexer-se. Escondem-se logo atrás dos sofás, fazem silêncio. Alguém, com uma capa larga com capuz que tapa o corpo e a maior parte da cara, entra no quarto em bicos dos pés, procurando não fazer barulho e dirige-se ao roupeiro, abre-o com muito cuidado e pára por momentos, à procura. Depois estende o braço e retira lá de dentro o fato novo. O rei e o alfaiate saltam ao mesmo tempo detrás dos seus esconderijos:
Rei e alfaiate: Ah ladrão, apanhámos-te!!
O ladrão vira-se para eles, surpreendido e assustado. O alfaiate e o rei ficam parados a olhar, incrédulos, para a figura encapuçada que tem o fato novo nas mãos. O capuz cai, para que os espectadores também possam ver quem é o ladrão.
Alfaiate: A rainha!
Rei: Mulher! O que fazes aqui? És tu o ladrão?
Rainha: Fui eu que tirei os fatos mas não sou ladrão! Estou a dar-te uma lição! Já não suporto a tua vaidade. Os nossos filhos e eu não conseguimos ter uma roupa nova, porque o alfaiate está sempre atarefado com as tuas encomendas! As pessoas pensam que tu és um péssimo rei, porque estás mais ocupado com a tua vaidade do que com os assuntos importantes do teu reino. E os teus ministros tentaram falar contigo, mas nunca lhes deste ouvidos. Tinha de fazer qualquer coisa antes que todo o povo se revoltasse e escolhesse outra pessoa para governar. Eu não quero ser rainha regente, quero ter a minha vida, e se isto continuasse não tinha outro remédio.
Rei: O quê? Querem que tu sejas regente? Como se atrevem? Exijo uma explicação.
Rainha: Tu é que tens de explicar como te atreves a gastar tanto tempo e dinheiro contigo e a esqueceres-te dos teus deveres.
Rei: Esquecer-me dos meus deveres? (Fica por um momento pensativo) Mas só um bocadinho… Eu pensava que não precisavam de mim, tenho uns ministros tão despachados, parece que sabem sempre o que é preciso fazer.
Rainha: Precisam da tua assinatura, pelo menos, não é? E tu às vezes perdes o tempo todo a escolher a caneta certa e esqueces-te de assinar… E se pudessem contar com a tua opinião também era bom, não era? Afinal tu és o mais bem pago!
Rei (Continuando surpreendido e com ar de quem nunca tinha pensado nestas coisas): Podiam-me ter dito, não? Porque é que não me disseste?
Rainha: E alguém consegue falar contigo? Ou te zangas ou te distrais. Só te interessas mesmo por ti próprio.
Rei: Eu sou assim?! (Vira-se para o alfaiate para procurar uma opinião mais favorável) Eu sou assim?!
O alfaiate, menos à vontade do que a rainha, acena afirmativamente com a cabeça. O rei olha de um para o outro e parece ir-se abaixo
Rei: Por isso é que tu quiseste fazer aquela aposta…
Alfaiate: Essa também foi uma razão, mas é verdade que a minha mulher ameaçou deixar-me se eu não passar mais tempo com ela…
Rainha: Só tu é que não vias como estavas a ficar chato (em aparte pode fazer daaah)
Rei: Também não precisas de ofender! Está bem, vocês têm razão. Mas era tão divertido… (Virando-se para o alfaiate) Fica descansado que vou cumprir a minha parte da aposta. A Germana vai ter o seu marido de volta.
Depois, dirigindo-se à rainha:
Rei: E tu vais ter o teu também, não te tenho dado muita atenção…
Rainha: Olha, dá atenção aos ministros e ao reino que a minha vida está muito boa assim como está. Eu não quero é ser obrigada a tomar o teu lugar por tu não fazeres o que deves.

A Rainha canta:
Eu não quero ser regente
Muito menos presidente
Por isso vê o que fazes
Senão ainda te arrependes
Não me venhas com cantigas
De romance e atenção
Cumpre lá os teus deveres
Trata da governação.

Alfaiate:
Oh que maravilha, vou poder descansar
Telefono já à Germana
Para ela se preparar
Vamos de fim-de-semana
Para bem longe daqui!
Estou mesmo farto de roupa
Nem queiram imaginar
Só penso em fatos de banho
E nós os dois a nadar.

Rei
Desculpa minha rainha
Peço desculpa ao meu povo
Prometo ocupar-me do reino
E deixar de ser vaidoso
Mas tenho de confessar
Que gosto de ser elegante
Será que se eu me comportar
Posso voltar a ser bem vestido?

FIM
.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Férias Grandes









Os Amigos do Esquerdo vão de férias!







Descansar, acampar, piscinar, praiar, ver o mundo!
Voltamos quando os dias começarem a encurtar!
Desejamos a todos óptimas férias e prometemos, desde já, um mistério no parque de campismo!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os amigos do esquerdo: Uma aventura em Carnide.


Esta história é só da filha (Carolina).

Num sábado de manhã, a Maria foi fazer um recado à mãe e no caminho viu uma placa que dizia, que ali à frente havia um buraco de dois metros, que antigamente servia para guardar os cereais. A Maria interessou-se por aquilo mas lembrou-se de que tinha de ir fazer o recado que a mãe pedira e então foi-se embora. Claro que não se esqueceu do que tinha visto e portanto resolveu depois ir outra vez ali para ver aquilo melhor. Na segunda-feira, no recreio a Maria contou o que tinha visto naquele sábado e os seus amigos e ela resolveram ir lá. Mas não sabiam como é que iam lá sem os seus pais. Pensaram, pensaram até que o Pedro pensou que o primo dele podia ir com eles. Quando o Pedro chegou a casa foi logo perguntar ao primo dele se ele queria ir com eles ver aquele buraco que parecia tão interessante. O primo que se chamava André disse logo que sim porque da ultima vez que tinha ido com eles a um sitio tinha-se divertido muito. Ao outro dia o primo do Pedro disse aos pais do Pedro que eles iam jogar à bola no parque mas quando disse isso estava a fazer figas.
Quando lá chegaram eles viram a tal placa a dizer para que servia aquilo antigamente. Quando olharam lá para baixo viram qualquer coisa a brilhar lá bem no fundo. De repente ouviram uma senhora a gritar:
- Roubaram-me!!! Roubaram-me!!! -repetia ela vezes sem fim.
Os meninos ao ouvir aquilo foram logo ver o que se passava e perguntaram à senhora o que se passava e ela só gaguejava:
- Rouba… Roubaram-me
- Roubaram-lhe o quê? Dinheiro? Jóias?
- Jói...Jóias. Mui…Muitas jóias!!!
- Mas não lhe roubaram mais nada?
- Não.
A Maria começou a raciocinar, juntando o que se tinha passado com o que eles tinham visto, e pensou que aquela coisa a brilhar podiam ser as jóias daquela senhora, e podiam ter sido roubadas na noite passada.
Como a Maria queria dizer aos amigos o que se tinha passado inventou uma desculpa para se irem embora dali. Quando já estavam bem longe da casa da senhora a Maria contou aos amigos o que tinha pensado e todos concordaram que era uma boa hipótese.
A seguir, puseram-se todos encostados ao vidro, ah pois, porque a Câmara tinha posto ali um vidro para ninguém cair lá para baixo. Eles continuavam a ver aquela coisa a brilhar mas não sabiam como é que podiam descobrir o que era aquilo. Entretanto o João disse:
-Aqui não estamos a fazer nada. Vamos mas é para casa e cada um pensa em hipóteses.
No dia seguinte eles ouviram dizer nas notícias que tinha havido vários assaltos no bairro. Quando ouviram aquilo foram logo dizer ao primo do Pedro para ele os levar outra vez lá para verem se ainda estava lá aquilo a brilhar. Para desilusão de todos já lá não estava nada, népia. Vendo aquilo o Pedro disse:
- Isto é impossível! Ainda ontem estava ali qualquer coisa e agora nem sinal.
Pensaram, pensaram até que o André disse:
-Eu sei que não devia, mas como foram vocês que me meteram nisto eu decidi que esta noite vimos para aqui espiar sem os vossos pais saberem e vemos o que acontece. Eles combinaram encontrar-se à porta de um café que era ali perto.
Nessa noite o primo do Pedro foi a cada uma das casas dos meninos e trouxe-os sem fazer barulho para os pais não ouvirem. Quando já estavam quase a chegar os miúdos começaram a pensar num sítio onde se pudessem esconder. Já escondidos, cada um no seu sítio esperaram até que acontecesse alguma coisa. Esperaram, esperaram até que ouviram um barulho vir do tal buraco. Quando ouviram aquilo viraram-se logo para lá para ver o que se passava. De repente ouviram dois homens a falar:
- Temos que esconder as jóias bem. -disse um deles
- Cala-te!!! Agora tira mas é essa porcaria do vidro com aquela ferramenta que tu tens!!!
A seguir de o homem tirar o vidro o outro agarrou numa escada muito grande e meteu-a lá dentro. Depois começou a descer. O outro homem foi logo a seguir mas este levava um saco do continente cheio até meio e parecia brilhar lá por dentro.
- Devem ser jóias. -disse o Pedro baixinho.
Quando eles tinham a certeza que os ladrões não os ouviam o André disse:
- Agora eu vou com o Pedro à esquadra de Carnide e vocês vão ficar aqui com o meu telemóvel e quando eles subirem filmam. Perceberam?
- Sim!!! - disseram eles em coro.
- Agora eu vou-me embora e tenham cuidado para não derem vistos. Adeus!!!
Passado algum tempo os miúdos ouviram passos de pessoas atrás deles e assustaram-se. Quando olharam para trás viram o pai da Maria e a mãe do João com ar de zangados e de aflitos ao mesmo tempo. Nesse momento a mãe do João disse:
- O que é que se passa aqui? -disse ela muito alto e com um tom de zangada.
Nesse momento ouviu-se um barulho vindo do buraco e o João disse baixinho:
- Eu explico depois agora baixem-se e dêem-me espaço para eu filmar.
A mãe e o pai não estavam a perceber nada mas baixaram-se à mesma.
Entretanto o André e o Pedro tinham chegado com a polícia e tinham-se escondido noutro sítio mais perto do buraco para quando os ladrões subissem atacarem.
Quando se viu que os ladrões já estavam cá fora os polícias apontaram-lhes as armas e levaram-nos para a esquadra e quando eles já não estavam com os polícias a mãe do João disse:
- Agora vamos nós ter uma converssinha senhor João…E eu também quero falar contigo André…
Depois nem queiram saber o que aconteceu a seguir, porque o João levou um sermão daqueles mesmo maus, e acreditem que os amigos dele também de certeza que levaram o mesmo, porque no outro dia, no recreio, não falavam doutra coisa senão da aventura que tinham tido e do sermão que tinham levado…

Carnide, 6 de Junho de 2008

sábado, 15 de março de 2008

Os amigos do esquerdo: assalto no supermercado


Num sábado de Inverno a mãe do João, com muitas coisas para fazer em casa, pediu à Avó para lhe ir fazer as compras da semana ao supermercado. O João que estava um bocado aborrecido, com o mau tempo lá fora e a televisão só a dar parvoíces, aceitou o convite para ir com ela. Estava mesmo a apetecer-lhe perder-se nas prateleiras dos brinquedos e fazer um lanchinho de pizza depois das compras. Convenceu a Avó a chamar a Maria, no andar de cima e lá foram os três, com a lista da mãe.
Despacharam as compras com bastante rapidez, porque todos ajudaram e o João até completou com algumas coisas que ele sabia que faziam falta, mas que a mãe não se tinha lembrado.
Não era para admirar, porque a mãe passava imensas horas a trabalhar e, muitas vezes, quando chegava a casa ainda trazia na cabeça as histórias que ficava a conhecer no trabalho. O pai queixava-se “a tua mãe anda sempre na lua”, mas o João não lhe levava a mal, até encontrava vantagens nisso, porque na hora de dormir a mãe contava-lhe algumas dessas histórias interessantes, que tinha lido na sua tarefa de escolher livros para publicar. Por isso, o João foi juntando no carrinho do supermercado aquelas coisas que a mãe tinha esquecido, orgulhoso de poder ajudar: os flocos que ela tomava ao pequeno-almoço, a pasta de dentes dele que se tinha acabado, o shampoo da natação, etc.
Estava a Maria a tirar umas bolachas da prateleira quando chocou com ela um destravado que vinha a correr, para tirar uma caixa da mesma prateleira. A Maria ia começar a protestar: “cuidado!” quando viu quem era: o Pedro que se equilibrou com dificuldade e abriu um sorriso entusiasmado: “Maria! O que estás aqui a fazer?” Ela riu-se: “O mesmo que tu, ora, estou às compras! Vim com a avó do João.” “O João está aí? Onde, onde?” E foram logo ter com o João, que esperava na fila do fiambre.
Estavam as compras feitas, as da lista e as extra lista e chegara a altura do lanche de pizza. Convidaram o Pedro. Os pais dele, que estavam ainda a começar as compras, agradeceram e autorizaram-no a aceitar o convite. Assim ficavam um bocado mais despreocupados para se concentrarem no que precisavam.
A Avó, o João, a Maria e o Pedro sentaram-se na esplanada, cada um com o seu tabuleiro. O carrinho das compras ficou à vista, num canto próximo. Comeram, conversaram e riram. A Avó ouvia-os e também entrava na conversa, ela apreciava bastante a companhia do neto e dos amigos. O Pedro estava muito animado. No caminho tinha vindo a protestar com os pais por ter de ir com eles ao supermercado: “Quando tiver 8 anos quero ficar sozinho em casa quando vocês forem às compras!” “Mas porque é que não posso ficar em casa, eu já sou crescido!” “Eu não abro a porta a ninguém, prometo!” E por aí fora, mas nenhum argumento convencera os pais. E ainda bem, porque entre ficar em casa sozinho ou vir comer pizza com os amigos nem se perguntava o que preferia! Contava esta história aos amigos e todos se riram. Imaginavam perfeitamente o Pedro a fazer uma cena daquele tipo, todo convencido que no ano seguinte já poderia fazer tudo o que agora não o deixavam. A Maria desiludiu-o: "Mas tu pensas que aos oito anos vais ser crescido? Eu tenho oito anos e ainda não me deixam ficar sozinha em casa. A não ser por uns minutos, para irem ao café lá em baixo.” “Mas tu querias ficar sozinha em casa também, Maria?” perguntou a Avó, intrigada. “É que é assim uma coisa de ser maior, percebe, faz-nos sentir menos criança.” respondeu a Maria. Ficou um momento em silêncio e depois continuou: “Eu na verdade às vezes tenho um bocadinho de medo” A Avó riu-se: “Deixa estar, eu também.” O Pedro, fanfarrão disse: “Quando me deixarem eu não vou ter medo nenhum!”
De repente o João, que estava calado a olhar para o lado onde tinham deixado o carrinho com as compras, gritou: “estão a roubar o nosso carrinho!” “O quê?!” Todos olharam para lá, estava um homem, como quem não quer a coisa, a começar a empurrar o carrinho deles, primeiro devagar depois a acelerar. O João levantou-se a gritar: “HEI, esse carrinho é nosso!” O Pedro e a Maria levantaram-se também, o homem desatou a correr, sem largar o carrinho, eles correram atrás dele por ali fora, a Avó vinha logo a seguir, também a gritar: “chamem um segurança, chamem um segurança.” Foi uma grande confusão! O homem, quando se viu assim perseguido, percebeu que para conseguir fugir tinha de deixar o carrinho. Já sem ele continuou a correr no meio das pessoas, mas o João continuou atrás dele e conseguiu passar-lhe uma rasteira que o desequilibrou. Veio um segurança, depois chegou o Pedro, depois a Maria. A Avó chegou daí a pouco, com o carrinho das compras, preocupada se alguém se magoara.
O segurança segurava o homem, que olhava com um ar muito desgostoso para todos. A Avó falou com ele: “Mas o que é que lhe passou pela cabeça, por amor de Deus?” “Têm de vir comigo, vou chamar a Polícia e depois apresentam queixa”, disse o segurança. A avó do João olhava para o ladrão com um ar pensativo. Percebia-se que o homem estava quase a chorar mas a tentar aguentar-se. Então a Avó disse: “Deixe estar, nós não queremos apresentar queixa, recuperámos as nossas coisas e isso é que é importante.” Todos olharam para ela com um ar muito surpreendido. Até o ladrão que deve ter sido o mais surpreendido de todos. “Muito obrigada, minha senhora,” disse ele. “Nem calcula como isso é importante para mim. Peço desculpa, mas é que estou a passar grandes dificuldades de dinheiro e vi ali o carrinho, parecia que ninguém estava a tomar conta dele… Mas afinal este rapaz estava. É corajoso, o miúdo!” “Mesmo que ninguém estivesse a ver o senhor sabia que aquelas coisas eram de alguém.” disse a Avó. “O que o senhor fez não se faz! Mas eu não quero aumentar as dificuldades da sua vida.” O segurança estava um bocado contrariado, mas se a avó não queria apresentar queixa e não tinha chegado a haver realmente um roubo era melhor deixar o homem ir embora. Foi o que fizeram.
Viram-no afastar-se, depois de voltar a agradecer à Avó. Começaram a falar todos ao mesmo tempo, excitados, a discutirem se era certo ou errado deixarem-no ir. A Avó explicou a sua atitude o melhor que conseguiu: “Sabem”, disse ela, “se ele é realmente um ladrão vai voltar a roubar e, mais tarde ou mais cedo, vai ser apanhado. Mas se é apenas um homem normal, a passar por grandes problemas na vida, isto vai servir-lhe de lição e é provável que não volte a fazer uma coisa tão tola.”
Quando se juntaram aos pais do Pedro estes nem queriam acreditar no que lhes contavam, como é que tinha acontecido aquilo tudo em tão pouco tempo?! Mas o pior foi mais tarde, quando chegaram a casa do João. A mãe caiu das nuvens, preocupadíssima: “Só vos acontecem coisas malucas!” E voltando-se para a Avó: “Oh mãe, mas como é que é possível? Como é que deixou os miúdos irem correr atrás dum ladrão? Podia ser perigoso! Estas confusões só se passam mesmo consigo!” “Oh minha querida, deixa estar que tu, no teu tempo, também me arranjaste algumas confusões que não ficaram nada atrás desta!” respondeu a Avó, com um ar muito tranquilo. “Por isso é melhor agradecermos que tudo tenha acabado bem e esquecer o assunto, não acham?”
Mas depois do que a Avó tinha dito não era possível esquecer. A mãe quando era criança tinha-se metido em confusões? Que confusões? Devia ser bem interessante! “Conta, Avó, conta” dizia o João, “conta lá as confusões da minha mãe!” O João e a Maria insistiram e a Avó, que gostava sempre de contar as histórias de antigamente, dispôs-se a contar, mesmo perante o ar desconfiado da filha que nem imaginava que história podia sair dali.

(continua)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

História antiquada para o dia dos namorados

Autoria: Novamente a Mãe e a Filha


Era uma vez um jovem príncipe, muito simpático mas também muito difícil de contentar. Sempre que os pais lhe perguntavam porque não se casava, ele respondia: “Porque nunca encontrei uma verdadeira princesa!” E o que queria ele dizer com isto? É que ele não queria apenas uma menina com o título de princesa, queria que ela fosse também uma pessoa delicada, doce e corajosa, como devem ser as princesas de verdade.

Um dia, andava o príncipe a caçar no bosque, com outros amigos cavaleiros quando, numa clareira, viram uma jovem muito bonita. Tinha uns longos cabelos castanhos, olhos grandes, muito escuros, com pestanas negras e longas que tornavam o seu olhar muito doce. O fato cor de rosa que trazia realçava a pele morena que parecia tão de seda como o vestido. Ela estava de pé, junto a uma árvore e, com gestos e gritos, procurava espantar uma raposa que tentava chegar a uma toca onde tremiam uns filhotes de coelho muito pequenos e indefesos. Quando os cavaleiros se aproximaram a raposa, que já estava a recuar, desapareceu por entre as árvores e o príncipe impressionado com a coragem daquela rapariga desmontou e apresentou-se. Ficaram ali os dois a conversar um bom bocado. Ele ficou a saber que ela vivia num outro país e tinha vindo com os pais visitar uns familiares. E, espanto dos espantos, ela era princesa, filha do rei e da rainha do outro país.

Regressando ao castelo o príncipe foi logo anunciar a novidade aos pais: “Encontrei uma princesa de verdade! Vou fazer o que há tanto tempo os pais e o povo desejam: casar com ela. Podem começar a preparar tudo!”

Ora no caso de príncipes e princesas preparar tudo significa, em primeiro lugar, entender-se com os pais da noiva. E o rei, pai da princesa, não queria uma pessoa qualquer para casar com a sua filha. Também ele desejava um rapaz corajoso e bom que pudesse ser para ela um digno companheiro para a vida. Assim disse ao príncipe: “Só podes casar com a minha filha se conseguires passar três provas:
Na primeira terás de vencer um torneio com o cavaleiro mais valente do meu reino. Na segunda terás de trazer o tesouro da bruxa má que vive na floresta e anda sempre a lançar feitiços sobre o meu povo. Na terceira tens de conseguir que a minha filha goste de ti e queira casar contigo.”

O príncipe estava muito apaixonado e por isso aceitou fazer aquelas provas.

Prepararam o torneio no castelo: numa grande praça construíram bancadas para quem quisesse assistir e um palanque onde se instalaram os reis com as suas famílias. Tudo enfeitado com fitas coloridas e estandartes esvoaçantes, que era esse o hábito naqueles países. Veio o cavaleiro valente com uma armadura brilhante e começou a luta. Os adversários tinham umas lanças compridas com as quais tentavam deitar o outro abaixo do cavalo; cavalgavam um em direcção ao outro, levantando nuvens de pó, cruzavam as lanças com toda a força e avançavam por ali fora até que voltavam novamente à carga. Das bancadas chegavam gritos: “força, príncipe, força” ou “força cavaleiro valente”, cada povo apoiava o seu favorito. Eles, animados por estas vozes lutavam ainda com mais entusiasmo. Eram ambos muito bons cavaleiros, hábeis a manejar as lanças, por isso era difícil saber quem ia ganhar. Até que o príncipe conseguiu dar uma lançada muito certeira e, com a ajuda do seu cavalo que se inclinou no momento certo, fez o adversário cair. Foi então declarado vencedor e aclamado por todo o povo. Já muita gente pensava que ele merecia casar com a princesa.

Mas havia mais provas a ultrapassar. Passados os festejos pela vitória no torneio, o príncipe começou a preparar-se para enfrentar a bruxa. Felizmente vinte anos atrás, no tempo do seu nascimento, os pais tinham tido a boa ideia de convidar para madrinha uma fada que vivia no seu reino. Agora foi procurá-la para se aconselhar sobre a melhor forma de lidar com a bruxa. Afinal bruxas e fadas têm um trabalho parecido, a diferença é que umas usam os seus poderes para fazer o mal e as outras usam-nos para fazer o bem. Mas são ambas entendidas em feitiços. A fada-madrinha ouviu com atenção o afilhado e depois de lhe explicar como podia defender-se de alguns feitiços, como por exemplo evitar que a bruxa o transformasse num rato, deu-lhe uns pós mágicos que faziam dormir.

O príncipe foi então para a floresta procurar a casa da bruxa que não demorou a encontrar. Tinha uma clareira à volta em que as árvores e as ervas em vez de serem verdes eram negras, como se um incêndio tivesse passado por ali. Por sorte a bruxa tinha saído para apanhar minhocas, aranhas e pelos de morcego para as suas poções. Ele escondeu-se dentro da casa, à espera que ela voltasse. “Cheira-me a carne humana” disse a bruxa para o seu corvo de estimação quando estava a entrar em casa (ela tinha um olfacto muito apurado, como o ogre do conto “O Pequeno Polegar”). Mas não teve tempo para dizer mais nada, porque o príncipe lançou os pós de fazer dormir e ela caiu logo ali redonda e começou imediatamente a ressonar. O corvo voou a grasnar, mas os pós também o tinham atingido e só teve tempo de chegar ao seu poleiro, antes de ir fazer companhia à dona, no mundo dos sonhos. O príncipe de seguida foi procurar o tesouro que estava, imaginem, ao lado do caldeirão onde a bruxa cozinhava as suas poções, tão segura ela estava de que ninguém se atreveria a chegar perto da sua casa.

Foi logo levar o tesouro ao rei – pai da princesa, muito aliviado por ter conseguido vencer a bruxa. Este ordenou-lhe: “Agora terás de decidir o que fazer com todo este ouro e estas pedras preciosas.” O príncipe respondeu: “Já que a bruxa tem prejudicado tanto o povo deste reino, queimando as culturas, destruindo-lhes casas e outras acções maléficas eu decido que o tesouro deve ser dividido entre todas as pessoas a quem ela fez mal.” Então o rei disse: “Esta era a parte mais importante desta prova e tu acabas de passá-la: revelaste que o teu coração é tão generoso como valente e por isso tens o meu consentimento para casar com a minha filha. Mas falta a terceira prova: tens de conseguir que ela te aceite, pois eu não sou daqueles pais antiquados que decidem pelas filhas com quem elas devem casar-se.”

E o príncipe partiu para a terceira prova: conquistar o coração da princesa. Comparada com as tarefas anteriores, esta até parece fácil, não é? Mas não foi bem assim. Sabem porquê? Porque, como todos os apaixonados perto da mulher amada, ele ficou um bocado tímido. A fada-madrinha foi novamente uma ajuda preciosa. Explicou-lhe que as raparigas, especialmente as verdadeiras princesas, gostam muito de conversar e de ouvir palavras bonitas e preferem os rapazes que se mostram atenciosos e bons companheiros. Que dão mais valor à oferta de uma flor do que a uma prenda que custe muito dinheiro. O príncipe seguiu os seus conselhos e passou uns belos momentos de conversa com a princesa, passeando pelos jardins do palácio. Levou uma rosa vermelha para lhe oferecer e, pelo sim pelo não, vestiu um bonito fato. Foi assim que a pediu em casamento e prometeu que ia ser um bom marido. A princesa tinha admirado bastante a valentia do príncipe no torneio. Não gritara, como os espectadores das bancadas, mas baixinho torcera por ele. E pensava que ele fora muito corajoso ao aceitar todos os desafios que o rei seu pai lhe impusera. Tinham sido grandes provas de amor e não há dúvida que merecia o amor que ela também sentia por ele. Por isso aceitou a flor e a promessa e disse: “Está bem, eu caso contigo”.

Foram depressa contar a novidade aos respectivos pais. Estes ficaram muito satisfeitos. Anunciou-se logo o casamento que foi ocasião de grande alegria e divertimento para os habitantes dos dois reinos. Naqueles dias (porque a festa do casamento durou vários dias) não houve fronteiras, todos foram convidados a participar na festa, comendo, cantando e dançando. Menos a bruxa, claro, que continuava a dormir e ainda não sabia de nada.

No fim da festa os recém-casados partiram em viagem. No regresso instalaram-se num palácio construído mesmo na fronteira entre os dois reinos, tiveram muitos filhos e viveram felizes para sempre.
FIM

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - II Parte


Autoria: Ideias da Filha, escrita da Mãe

Então uns dias depois, quando o fato seguinte ficou pronto, o alfaiate colocou-o no enorme armário das roupas. Tinha chamado o rei e juntos esconderam-se atrás dos sofás do quarto e esperaram. Estava tudo silencioso à volta deles, só se ouviam ao longe os ruídos da vida no palácio, amortecidos pelos cortinados espessos: carruagens que chegavam e partiam, criados que se movimentavam nas suas tarefas de limpeza e arrumação, o jardineiro que trabalhava no jardim e cantarolava enquanto arrancava ervas daninhas. A certa altura ouviram-se passos, eles pensaram que finalmente o ladrão ia aparecer. Mas logo vozes acompanharam os passos, eram algumas damas do palácio que conversavam e riam, a caminho do chá. O rei, farto daquela posição, acocorado atrás do sofá, começou a sentir-se ridículo: “Ora aí está”, disse ele, “não há ladrão nenhum, tu é que me andas a enganar. Vou sair daqui para fora, estou com fome e é hora do chá!” “Esperemos mais um pouco”, disse o alfaiate e ia acrescentar mais qualquer coisa quando o puxador da porta começou a mexer-se. Esconderam-se melhor atrás dos sofás, fizeram silêncio, suspenderam a respiração. Alguém entrou no quarto em bicos dos pés, procurando não fazer barulho e dirigiu-se ao roupeiro, abriu-o com muito cuidado e parou por momentos, à procura. Depois estendeu o braço e retirou lá de dentro o fato novo. O rei e o alfaiate ainda não tinham visto quem era, esperavam para apanharem o ladrão mesmo a tirar o que procurava. Quando ouviram o ruído do tecido saltaram ao mesmo tempo detrás dos seus esconderijos: “Ah ladrão, estás apanhado!”

E qual não foi o seu espanto quando viram... a rainha. Era mesmo ela, com o fato novo nos braços, virando-se muito surpreendida. Mas rapidamente recuperou do espanto e enfrentou-os, furiosa com o rei: “Apanhaste-me sim senhor, mas o que eu queria era dar-te uma lição e está dada! Já não suportava a tua vaidade. Os nossos filhos e eu não conseguimos ter uma roupa nova, porque o alfaiate está sempre atarefado com as tuas encomendas! As pessoas pensam que tu és um péssimo rei, porque estás mais ocupado com a tua vaidade do que com os assuntos importantes do teu reino. E os teus conselheiros tentaram falar contigo, mas nunca lhes deste ouvidos. Tinha de fazer qualquer coisa antes que todo o povo se revoltasse e escolhesse outra pessoa para governar.”

Agora o surpreendido era o rei. Nunca tinha pensado nas coisas desta maneira. Também nunca ninguém lhe tinha falado assim, porque ninguém se atrevia, afinal ele era o rei. Por momentos lembrou-se das conversas dos seus conselheiros e ministros, da aposta que tinha feito com o costureiro. Olhou de novo para a rainha e reparou que ela era muito bonita e ainda mais assim, zangada, com os olhos brilhantes. Percebeu que todos os que lhe tinham chamado a atenção para o excesso da sua vaidade tinham razão e em vez de chatos, como ele os tinha chamado, eram os seus verdadeiros amigos.

Voltou-se para o alfaiate e pediu-lhe desculpa pela falsa acusação que lhe fizera. Disse como estava arrependido e tencionava cumprir a sua parte da aposta que tinha perdido, pedindo apenas os fatos novos que fossem necessários. Depois, dirigindo-se à sua mulher, agarrou carinhosamente na mão dela e disse: “E tu perdoa-me também, minha rainha. Tenho sido muito parvo. Será que aceitas vir lanchar comigo, só nós dois, para te mostrar como estou arrependido? Ela que, apesar de tudo, gostava dele respondeu: “Aceito, quero bolo de nozes e chá de jasmim.” E pela primeira vez, desde há muitos anos, o rei esqueceu-se de mudar de roupa para a hora do chá.

FIM